Friday, January 21, 2005

Leia até aqui.

Brincadeira. Leia sempre um pouco mais. A Internet comprovadamente nos consome ao menos 10% a mais de tempo para ler a mesma quantidade de texto do papel, aquele comum, tipo o do jornal. Isso, decerto, pela trabalheira de lidar com uma ou outra barra de rolagem, um botão aqui, outro acolá. Tem também os vários links interessantes que nos dispersam. Sem falar na pilha horizontal de janelas que estão abertas ali embaixo, na barra de tarefas. Fora o magrão ou a guria que insiste a piscar no msn ou nos outros softwares de conversa instantânea.

Eu sei, é dura a batalha. Antes não era assim. Aposto. O cara quando ia ler alguma coisa que chegava, rasgava o envelope, que até então era a única coisa que lhe desviava o foco. Depois de rasgada a pontinha aquela, suficiente pra fazer o rasgo maior por onde sairia o papel escrito, nada mais o impediria de ler. Lia, relia. Sabe lá se não lia uma terceira vez. Faria o que se não isso? Reler o jornal? A revista, se existia. Ligava o rádio e fica olhando pro nada.

Somos produtos da evolução e da convergência das mídias, sei. E o passado também não devia ser tão monótono como tentei convencer ali em cima. Mas insiste mais sempre. Ler, como bem sabemos e ouvimos por aí, só faz bem. Leia de tudo e mais. Leia até isso aqui quando te sobrar um tempo. E se tiver mais algum, comente. Ficarei bem agradecido.

No começo, tinha me comprometido de escrever a quantidade certinha pra caber na tela do teu monitor quando abrisse a Uzina, sem precisar rolar. Mas, sério, não deu. E temo não dar na maioria das vezes. Por isso, a clemência por compreensão.

Dê sempre um pouco mais de crédito para esse humilde comunicador, humilde futuro jornalista. Leia até aqui. Feito, consegui.

Sai monstrengo!

A globalização trouxe pro mundo, junto de mais riqueza e de mais pobreza pra quem já as tinha, algo um pouco mais particular. Uma frenética sensação de nunca saber o suficiente e, mais, de perder o controle do saber pela quantidade dele que nos é apresentada no zapear o controle remoto ou listar o que precisa ser consultado na Internet.

O principal dos sintomas, então, é a preocupação. Seguida do conforto das desculpas que sempre encontro. Primeiro me preocupo em não estar suficientemente por dentro de algo que acontece e, em seguida, agarro meu dia-a-dia e o coloco na linha de tiro para não ser atingido. A culpa é dele. Como vou ter tempo de ler tudo e ver tudo se o tempo em que tudo acontece está ocupado pelas obrigações cotidianas?

Sempre que posso e tenho alguma folga - um necessariamente existe por causa do outro - compro uma Folha de S. Paulo. Aquele bolo de cadernos empilhados me dão uma gostosa sensação de dever cumprido. Como referência de jornalismo no país, a Folha serve como um anestésico. Fico com a consciência tranqüila, digamos assim, pelo simples fato de tê-la em mãos. Isso tudo antes de ler.

Mas aí vem aquilo que eu disse lá em cima, que a globalização trouxe. Pra mim, a Folha é a materialização desse saber múltiplo. Não que ela tenha vindo com a globalização. Mas assusta tal e qual.

- Olha quanta coisa eu tenho que você deveria saber... uahhhh! Olha aqui, olha... deveria, não, deve, é sua obrigação saber... ler tudo... uahhhh! uahhhhh!

Diálogo com seres inanimados e a imagem deles gigantes com dentes coreeno atrás de você é coisa de pesadelo de desenho animado. Mas eu não consigo evitar. Preciso que imagine o quanto sofro.

Não é loucura. Já ouvi muito colegas de jornalismo falando disso também. Eles que carregam o jornal do dia, a Veja da semana e um ou dois livros na pasta. Lêem tudo? Não. Carregam e tentam bafar aquela voz perversa que nos atormenta.

Rolou por e-mail ano passado um artigo de um senhor afirmando que deveríamos ser especialistas em algo. Esquecer o resto e dedicar nossa atenção para algo determinado. Que o mundo é dos que são especialistas em algo e não dos que sabem um pouco de tudo. Anh? Também pensei isso. É a forma como ele tenta abafar o monstrengo que grita, como a Folha grita pra mim. Né? Cada um do seu jeito. Por isso, discordo, meu senhor. Como disse pra vários amigos que entraram na discussão semestre passado. Não podemos, como viventes do século da informação, ignorar o mundo que passa girando no monitor de nossas casas, escritórios, escola, trabalho. Corriga outra. Não estamos no século da informação. Mas no século da propagação dela. Sim, isso. Porque ela sempre existiu.

Domine o monstrengo. Ignore-o algumas vezes, mas não desista de saciá-lo. Não o deixe desaparecer sob a pena de naufragar na ilha da soberba. Daqueles que insistem no seu saber egoísta e medíocre.