Thursday, January 13, 2005

Tsunami e folhas ao vento!

Parece que limpa os pulmões ler coisas desse tipo. Enquanto nossa mídia hegemônica se resume a imagens de arquivo as quais larga todos os dias dizendo-as novas, este texto tem vida.

Que testemunho este Serambi Indonésia dá ao jornalismo que conhecemos, hen? Um edição sem anúncios, com o nobre propósito de ajudar o próximo.

Até parece justo a decisão do governo indonésio em estipular um prazo para que os estrangeiros saiam do país. Parece que eles entendem bem mais de humanidade do que boa parte dela.

Abraço.

***

O tsumani pegou todos de surpresa. As redações brasileiras não foram exceção. No dia 26 de dezembro, as nossas já esvaziadas redações estavam desertas, povoadas por focas, estagiários de plantão e alguns jornalistas de castigo. Mas, como as tragédias não marcam hora para acontecer, o tsumani pegou a nata do jornalismo brasileiro na praia ou descansando da cansativa entrevista coletiva com Papai-Noel, longe do mundo e das notícias.

Jornalistas passam a vida esperando a “grande onda” e quando ela chega, eles estão dormindo na praia e quem pode surfá-la são os focas, que tomaram “caldos” incríveis. Castigo dos deuses.
Passado o período de merecido descanso dos chefes, meia dúzia de correspondentes brasileiros foram enviados ou deslocados para a região afetada. A decisão de alguns grandes veículos parece ter sido pautada mais por motivos de economia de recursos do que por razões jornalísticas. O objetivo principal parece ter sido evitar a compra de material internacional, mas não provocou grande alteração na cobertura. O material internacional continuou sendo imprescindível e diferenciado.

Só para uma das regiões afetadas, a CNN mandou uma equipe de 20 profissionais. Mas não é do primeiro mundo da notícia que vem o melhor exemplo do jornalismo de verdade; vem da própria Indonésia. O repórter do jornal “El Mundo”, David Jiménez, que vem fazendo uma cobertura diferenciada do desastre e que denunciou a “política dos turistas e ricos primeiro” na estratégia de resgate, relatou o exemplo ímpar dos colegas do jornal Serambi da Indonésia.
A principal notícia da vida do
Serambi Indonésia chegou em forma de uma onda gigante, arrasou a redação e inundou tudo. Ajurdin Syam, que há uma década dirige o jornal, disse ao jornalista do “El Mundo” que nas horas que se seguiram à tragédia só pensava em duas coisas: “Pensei em minha família e como fazer o jornal”.

Ajurdin encontrou com vida a sua mulher e seus três filhos, mas o jornal não saiu no dia seguinte. Somente seis dias depois o jornal voltou a circular. Foi uma edição extraordinária que demonstrou mais uma vez o espírito de resistência de um grupo de repórteres que enfrentaram décadas de guerras, a constante ameaças contra as suas vidas, a escassez de recursos e finalmente o grande tsunami. A sede do jornal foi atingida um pouco antes das oito horas da manhã. A onda inundou o jornal. As recepcionistas e o pessoal da segurança morreram na hora, assim como um grupo de repórteres que já havia chegado para o trabalho. Outros foram surpreendidos na parte baixa da cidade ou na residência dos proprietários do jornal, que fora coloca à disposição dos empregados, hoje completamente destruída. No dia seguinte ao maremoto, 60% dos trabalhadores do jornal haviam desaparecido.

Os sobreviventes reuniram-se, conseguiram um local emprestado distante três horas do centro e com uma rudimentar impressora rodaram o Serambi. Em primeiro de janeiro, os habitantes de Banda Aceh, puderam ler a primeira edição do jornal após o Tsunami. A manchete alertava sobre a ameaça da cólera entre os sobreviventes e uma nota pedia aos jornalistas que estavam vivos que se comunicassem com o jornal. O número de baixas no jornal foi de meia centena de pessoas. “Trabalhamos sem descanso, inclusive os que haviam perdido os seus familiares. Pensávamos que em meio à tragédia, nossos leitores precisavam de nós mais do que nunca”, revelou Ajurdin na nova redação improvisada do diário. O jornal, que é de propriedade de um grupo de comunicação Indonésio, ressurgiu de forma gratuita, com uma circulação limitada de cinco mil exemplares - eram 25 mil antes da tragédia - e sem publicidade.

A maioria das empresas que anunciava no jornal estava destroçada e os membros do departamento de administração encarregados das contas haviam morrido, junto com outras mais de 100 mil pessoas da província. A produção do jornal se converteu em uma missão social para os trabalhadores do jornal acostumado às dificuldades. Durante seus primeiros anos de existência, sob a ditadura de Suharto, foi publicado clandestinamente, convertendo-se no único guardião da liberdade de imprensa em meio a uma região de conflitos. As páginas do Serambi oferecem listas de mortos, anunciam onde e como receber ajuda humanitária que está chegando na província, publicam informações sobre feridos e mantém informado o povo que se sentia abandonado. A atual redação do Serambi é muito diferente dos grandes veículos estrangeiros, inclusive das nossas. Suas instalações são modestas, três cômodos, e o diretor prepara o café, corrige textos e sai à rua para colher depoimentos. “Desde o maremoto, o jornal se converteu em um símbolo de tenacidade e um exemplo de que voltar a sonhar é possível”, escreveu o jornalista do “El Mundo”, David Jiménez.

De fato, dá até para sonhar que o Jornalismo de verdade não morre jamais, mesmo com as redações destruídas ou esvaziadas...

(Retirado do site O Jornalista)

Wednesday, January 12, 2005

O primeiro rosto do novo ano. Posted by Hello

Escrever e escrever

Comentei com algumas pessoas isso. Porque escrever pra mim sempre foi uma tarefa que exigia um pouco mais do que o olhar habitual sobre as coisas. O objetivo, assim cru, natural, já é escrito. E muito por aí. E pra escrever do jeito que gosto, preciso de inspiração. Isso, inspiração. Não, não é poesia. É texto mesmo. Às vezes se mistura com alguma crônica. Mas, em princípio, é texto, texto de opinião.

Com alguns até comentei a história do dedo queimado.

Era uma vez eu. Não lembro que ano estava virando. Faz uns 10 anos. Então devia ser de 1994 pra 1995, ou quase isso. Fogos sempre foram proibidos aqui em casa. Por causa de experiências mal-sucedidas. Meu tio se machucou feio uma vez. Bom, pra minha festa particular seriam suficientes um pedaço de Bombril, um cordão e fósforos. Sim, eu era novo. Bem guri na época. Acendia o Bombril, ia até o meio da rua e girava o mais rápido que conseguia, sobre a minha cabeça. Com o girar, as faíscas caíam no asfalto e como era noite, ficava bem bonito. Não tinha muito perigo porque as faíscas passavam longe. A merda é que o Bombril tinha acabado. E o último que tinha usado não tinha queimado por inteiro e estava lá, no meio da rua. Algumas brasas em volta, mas muitas regiões prateadas, que ainda não haviam sido queimadas. Só vi que estava enganado quando me percebi correndo em direção ao tanque, nos fundos de casa. Eu tinha tentado pegar o que sobrara do Bombril exatamente pela brasa. Doeu.

Fiquei toda a primeira semana do novo ano com o polegar e o dedo indicador da mão direita com uma grossa camada de pele, digamos, morta. Não sentia nada. Enquanto a pele se refazia por baixo, essa outra, grossa e sem tato, era o que ligava meus dedos ao mundo real.

Já disse que não lembro bem. Digamos que faz uns 10 anos. Acho que faz mais. Mas a sensação voltou. Não, dessa vez não brinquei com o Bombril em brasa na noite de Ano Novo. Eu estou meio assim. Como estavam os meus dedos queimados aquele dia. Estou com dificuldade de escrever, de olhar além. Alguma coisa que me liga com o mundo real está com problemas. E preciso resolver isso.

Inicio hoje este Blog. Com objetivo de publicar alguns textos de anos anteriores. Mas, especialmente, precisando escrever. Me recuperar.

Esta é a pauta da vez. Escrever.