Friday, March 11, 2005

Que orgulho desse Brasilzão!

Esses dias entraram no pátio de casa e levaram o rádio do carro do pai. Dois dias depois, enquanto eu jogava bola, levaram o resto.

Soube de um amigo do qual levaram o carro no mesmo lugar, poucos dias depois. Na outra semana, outros dois carros foram furtados dali.

Fomos deixar o carro de um amigo poucos metros longe de um xis, em Canoas. O filho do dono do terreno que ficava em frente de onde estávamos estacionando nos avisou que era grande a chance de o carro não estar mais ali quando voltássemos. Quase tinham levado o do pai dele na semana anterior. Ele estava chegando em casa quando viu os ladrões arrancando e os seguiu até que a polícia fizesse algo.

O microônibus que utilizo para vir da universidade (também como medida de prevenção) toma as suas próprias medidas de prevenção. Não espera o passageiro entrar em casa. De certo porque seria, no mínimo, dezoito ou dezenove vezes mais arriscado ser surpreendido com a visita de um assaltante dentro do veículo, pondo em risco a vida dos demais.

Um colega de trabalho teve a oportunidade de ver os ladrões arrombarem e levarem seu carro à luz do dia, no momento em que era obrigado a caminhar prum lado e proibido de olhar pra trás.

Ouvi outro dia, enquanto almoçava, que outro foi assaltado enquanto chegava em casa por dois jovens que desceram de uma carroça. Isso. Daquelas com um cavalo cansado, faminto e doente na dianteira.

Muitos e muitos cidadãos de bem dizem não à campanha do desarmamento porque fazem questão de ter uma arma de fogo em casa para defender sua família. Argumentam que se a arma for proibida inclusive dentro de casa, os ladrões trocariam de vez a rua pela nossa sala. Mais e mais pessoas passariam horas e horas trancadas no banheiro, senão fossem mortas pela ganância de um marginal.

Entretanto, é motivo de verdadeira exaltação quando avistamos uma viatura da polícia civil na cidade onde moro.

Eu, sigo por aí, vivendo a vida com essa mania de perseguição injustificada. Sigo enchendo o peito de orgulho desse meu país.

E, assim como as novelas terminam os capítulos com o nível de euforia e de ansiedade dos brasileiros lá nas alturas, ontem tive eu o meu orgulho levado aos céus. Quase não me contive.

Levaram a bolsa da granfina da novela das oito. Nem mesmo ela se dava conta do ocorrido, uma viatura vinha às pressas para prestar socorro e atender a ocorrência. O trombadinha corria feito um condenado (só que solto) até que, não alcançado pelo carro da polícia que vinha a mil, entrou numa embarcação que saia na costa e se foi.

Me reorganizava na cadeira, tentando me convencer da fábula que via na TV, quando aconteceu o mais legal. A Polícia Federal por acaso passava pelo capítulo bem nessa hora. Foi acionada pelos polícias. Começou uma cinematográfica (jura!) perseguição em alto-mar ao trombadinha, ladrão de perua da novela das oito. Foi lindo. Deu um baita orgulho. Eu sou brasileiro, eu moro nesse país, eu sou desse país, gritei. Pega, pega, pega!

Quase chorei quando o malandro jogou a bolsa no mar e tudo estava acabado. Não fosse o espírito de porco do ladrão, tudo terminaria como na vida real e na Senhora do Destino. Com um glorioso final feliz.

Agora, vai dizer, mesmo adiado o aumento de 60% do salário dos deputados, dá ou não dá um orgulho desse brasilzão, hem?

1 Comments:

At 4:53 AM, Anonymous Anonymous said...

Cara...
... perfeito!!!
É exatamente isso que a maioria pensa, mas não consegue (ou prefere) se expressar. Sábias palavras!!!
Esta semana, durante uma das minhas intermináveis aulas, o professor disse uma frase que me marcou. Falávamos sobre uma reunião de pauta para uma matéria sobre homicídios e ele comentou:
"As pessoas, hoje, não querem justiça. Elas querem vingança".
E esse é o único sentimento que nos resta. Nem a justiça presta neste nosso país de macacos (me incluo no nobre rol de primatas). O que sobra para nós, então? Desejo de vingança.
Ah, se eu tivesse uma bomba...
Gustavo.

 

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