Progresso em cotas
Há uns bons anos, era comum na cidade ouvir-se comentar da qualidade de ensino do colégio Rondon, em Canoas, no Rio Grande do Sul. Aqui em casa, o exemplo clássico era o de uma amiga da minha irmã, que era irmã de um amigo meu. Ela tinha feito todo o segundo grau científico (atual Ensino Médio) no Rondon e havia passado no vestibular de Odonto na federal de Porto Alegre. E isso era natural. O Rondon é um colégio estadual e, como ele, as demais escolas do estado tinham essa fama: educação forte, professores de qualidade.
Isso, sei, surpreende um pouco hoje em dia. Ainda mais depois da falação sobre Pró-Uni e o sistema de cotas e, agora, a gritaria gerada pela reforma universitária.
O certo é que consolidou-se no país a realidade de universidade privada como privilégio dos nobres e a federal como privilégio dos nobres também. Isso porque só quem pode pagar uma privada é a grande minoria do país e só quem consegue entrar numa federal, dada a grande demanda de candidatos principalmente, é o melhor preparado. Eis, então, a questão. Quem é o melhor preparado? Óbvio, o cara que teve ensino de melhor qualidade. Ou quantidade. A realidade que conheço me diz que só entra para o curso de Odonto na Federal, hoje, aquele que fez cursinho pré-vestibular. Isso, quem sabe, porque nem o Ensino Médio privado nem o público têm dado conta da exigência por qualidade. Extrai-se daí, claro, o perfil do estudante brasileiro, que, salvo louváveis e numerosas exceções, é levado pela massa, torna-se, cada vez mais, cópia de outros seres despropositados e sem objetivos pela frente.
Antes de se pensar, de forma prática, na urgente qualificação da educação no país, vieram as cotas. O Estado se exime da responsabilidade de formar bem o jovem e dá direito aos menos favorecidos de acessar a universidade com o estigma de menos capacitados. Como os negros são a maioria dos pobres no país, eles estariam especialmente favorecidos pelo sistema de cotas.
Sempre aprendi, isso desde pequeno, que nunca se deve amontoar todas as compotas e potezinhos de qualquer forma dentro de um armário sob o risco de surpreender o próximo a abrir as portas. A avalanche de potes, temperos e vidros de todos os tamanhos que viriam abaixo é um alerta à administração da educação no Brasil.
Nos orgulhamos de pesquisas que dizem que quase a totalidade de nossas crianças estão na escola. Isso não é investir em educação. A pieguice da qualidade versus quantidade serve aqui também. De nada adianta, como comprovadamente estamos vendo no debate atual com o MEC, atrolhar nossas escolas de alunos sem que não se preocupe minimamente com o que estamos ensinando e que método de avaliação estamos utilizando.
O debate é longo e, em respeito aos meus milhares de leitores, vou deixá-lo na reflexão ou na conversa que podemos ter pelos comentários aqui da Uzina.
A menos que me convençam, cotas são desculpa de incompetência. De governantes que nunca ensinaram o país a viver olhando pra frente. Importamos a cultura do imediatismo e nos nutrimos dela. O Enem e o Pró-Uni são um sucesso até a próxima eleição. Aí virão outros programas, outros nomes e outra esperança perneta.
Desse jeito, desistamos do futuro. Não sei as próximas, mas minha geração chegou à universidade. O Estado nos deu o progresso por meio de cotas.
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